Thursday, August 2, 2012

Emília de Paiva Meira


Emília de Paiva Meira (1872 - 1937) foi a segunda diretora [1] do Colégio Progresso Campineiro, no período de 1902 até o ano de seu falecimento em 1937.

Nascida na Parnaíba, no estado do Piauí em março de 1872, filha de membros da elite, Dona Emília, como era conhecida em Campinas na época, estudou em diversos colégios dentre eles o Colégio Progresso do Rio de Janeiro, onde sempre alcançou as melhores notas e prêmios em todas as classes e onde conclui o curso normalista.

Nesta instituição Dona Emília teve aulas de matérias variadas, compondo uma formação diferenciada para mulheres à época do Império. O colégio oferecia uma gama ampla de disciplinas, incluindo ciências naturais, física, química e matemática, matérias consideradas pouco usuais para o sexo feminino.

Indicada por um de seus irmãos para ser a diretora do Colégio Progresso Campineiro e escolhida por Orosimbo Maia [2] por ser do círculo da elite e também por ser de confiança dos fundadores da instituição, Dona Emília, que tinha uma vocação natural para o magistério e o dom de realçar todas as virtudes femininas da época, conforme relatou uma aluna da instituição, deu um novo rumo à instituição, transformando-a quase em um convento, visto que para ser contratada para atuar como professora no referido colégio era necessário “ser solteira, ter a moral ilibada e disponibilidade para residir na escola” (Uhle, 1998, p.84, citado por Côrrea, 2005, p. 17).
  
Vale ressaltar, entretanto, que, tal fato, não impedia que o colégio tivesse ares da modernidade e do progresso científico como almejado por seus fundadores de modo que suas alunas pudessem ter um status e uma formação adequada para poder cursar o ensino superior, se o desejassem.

O Colégio Progresso tornou-se a família de Dona Emília, visto que ela não se casou, nem tampouco teve filhos. Os 35 anos de dedicação de Dona Emília ao colégio garantiu, assim, que o mesmo ganhasse destaque e prestígio no cenário nacional e contribuísse para a formação das futuras cidadãs e líderes da nação que recentemente se proclamava Republicana.

Em 1913, a propriedade do Colégio foi passada para Dona Emília devido ao término da sociedade, porém Orosimbo Maia apoiou-a em suas obras, até mesmo na construção do prédio definitivo do Colégio Progresso na Avenida Júlio Mesquita.

Em 1919, Dona Emília decidiu ingressar na Ordem Terceira de São Gusmão, um grupo constituído por um padre diretor e por católicos leigos que buscavam se aperfeiçoar espiritualmente semelhante às associações religiosas do colégio.

A religiosidade de Dona Emília influenciou tanto o colégio que este ganhou uma capela, bem como associações religiosas como a Pia União de Maria, a Congregação dos Santos Anjos e a Liga Eucarística.

A religião era, assim, para Dona Emília fonte de paz de espírito, sempre abalada pelos diversos desafios e problemas que a administração de uma grande instituição de renome representa.
Em 1924, Dona Emília fundou uma filial do Colégio Progresso em Araraquara, dirigido por uma ex-aluna do Colégio Progresso Campineiro realçando as relações estreitas entre o colégio e suas alunas.

Em 1928, Dona Emília criou a Escola Normal anexa ao Colégio Progresso Campineiro, permitindo a formação profissional das moças em uma carreira considerada digna para o sexo feminino. Nesse mesmo ano, Dona Emília criou a Sociedade Brasileira de Educação e Instrução de Meninas. Que mantinha o Colégio Progresso Campineiro e o Colégio Progresso de Araraquara. 
Em 1931, o Colégio Progresso Campineiro foi entregue à Dona Emília que se tornou sua mantenedora até 2003.

Quando Dona Emília faleceu em 1937, a forma encontrada para homenageá-la foi conseguir autorização da prefeitura de Campinas para poder construir seu túmulo ao lado da capela do Colégio Progresso Campineiro.

Em seu testamento, Dona Emília destaca a importância de manter a mesma proposta do colégio, podendo ser transferida para os padres salesianos caso os fins educacionais não fossem assegurados.



[1] A primeira diretora do Colégio Progresso Campineiro foi a austríaca Anna von Maleszeweska, formada pela Universidade de Kie, na Alemanha, e Nancy da França. A senhora Maleszeweska foi demitida em 1902 provavelmente por não ser tão rígida como se esperava e por não dar um caráter religioso à instituição.
[2] Prefeito de Campinas durante três mandatos e um dos fundadores do Colégio Progresso Campineiro em 8 de outubro de 1900.

Testamento da Dona Emília.

 

Nota de falecimento de Dona Emília.





Monumento particular em homenagem à Dona Emília de Paiva Meira que  abriga seus restos mortais e fica situado na entrada do Colégio Progresso Campineiro






 
Bibliografia
CÔRREA, P. K. Trabalho de Conclusão de Curso. Decifra-me ou te devoro: levantamento e análise das fontes sobre o ensino religioso do Colégio Progresso Campineiro na Primeira República (1900 - 1937). 2005.   Disponível em <http://www.fe.unicamp.br/servicos/centro_memoria/pesquisa/tcc-ColegioProgresso.pdf>
_______. Santo abandono: análise dos documentos de cunho religioso do Colégio Progresso Campineiro (1900 - 1937). 2008. Disponível em <http://www.anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XIX/PDF/Autores%20e%20Artigos/Priscila%20Kaufmann%20Correa.pdf>

_______. Entre a fé o fruto do conhecimento: o ensino religioso no Colégio Progresso Campineiro. Campinas-SP, 2009.
Disponível em <http://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&frm=1&source=web&cd=1&sqi=2&ved=0CDMQFjAA&url=http%3A%2F%2Fwww.uel.br%2Frevistas%2Fuel%2Findex.php%2Fantiteses%2Farticle%2Fdownload%2F1947%2F2209&ei=KqjtULu8I9Cr0AGMuYGwDw&usg=AFQjCNGvwrpI24pM8-ynMM7auVTInzOuSg&sig2=293DdapFN42zk5vOM8iEeA&bvm=bv.1357316858,d.cWE>

_______. O Arquivo Escolar e a Educação Feminina: um olhar sobre o acervo do Colégio Progresso Campineiro. (Campinas -SP). 2011. Disponível em <https://docs.google.com/viewer?a=v&q=cache:MIseNZLkK_QJ:www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe6/conteudo/file/981.doc+&hl=en&gl=br&pid=bl&srcid=ADGEESgxU7DE2bKwEiTBYLYeHq31eJc9ENPu1szaA9gjaHKVsZYbqvBiULwXbG98bsoU2bfgyBH0qgs-TOOAw-rBmbmeLvcf9vMD34IhSi6EFYKqBFJ3dkM6RGr4NwlKgXev3vNij16J&sig=AHIEtbQBa7soCUTNARBeNPvfaaYLw9i7tQ>



Maria Clarice Marinho Villac foi aluna do Colégio Progresso Campineiro no período de 1914 a 1920, período no qual Dona Emília era diretora. Publicou seu primeiro livro, Cinco Travessos, em 1937. O segundo, Clarita da Pá Virada, em 1939. O terceiro, Clarita no Colégio, em 1945.





'Clarita da pá virada', o livro que encantou até mesmo Monteiro Lobato, nasceu da necessidade que a autora sentia de compartilhar, não só com seus filhos, mas com todas as crianças, as deliciosas histórias de sua própria infância e adolescência, as quais ela nunca se furtava de contar. Mesmo com tão poucas edições (a primeira é de 1939), este livro foi capaz de deixar uma marca indelével no coração daqueles que tiveram o prazer de lê-lo.”

Disponível em: <http://www.livrariacultura.com.br/scripts/resenha/resenha.asp?nitem=1808170&sid=1012482281519584373149518>


Conforme pontua Corrêa (2009), em Clarita da Pá Virada, Maria Clarice relata sua infância nas fazendas da família. Nessa fase da sua vida, ela começa a frequentar a escola, mas o seu ingresso definitivo no universo escolar se dá no final do livro. Também começa a aprender catecismo, bem como a leitura e a escrita.





De acordo com Corrêa (2009), Clarita no Colégio é uma obra literária de cunho autobiográfico que relata a vivência de uma aluna que estudou em um internato nas primeiras décadas do século XX, mais precisamente no período de 1914 a 1920. O Colégio Progresso Campineiro proporcionou condições para que Clarice aprendesse a controlar seus impulsos, a não ser tão geniosa e a buscar adequar-se a uma postura mais obediente e virtuosa, elementos fundamentais para uma educação feminina.  Por causa de seu comportamento, Clarita mereceu alguns castigos e teve muitas conversas com Dona Emília (Corrêa, 2012), que utilizou a religião católica para desenvolver um comportamento adequado na menina.

Bibliografia:

Côrrea, P. K. Clarita no Colégio: entre a literatura de cunho moralizante e a fonte histórica. Campinas-SP. 2009. Disponível em
<http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais17/txtcompletos/sem12/COLE_692.pdf>

_______. Leitura para crianças: vida e obra de quatro escritoras entre a metade do século XIX e início do século XX. Campinas-SP. 2012. Disponível em: <http://www.usf.edu.br/revistas/horizontes/v30-n1-2012/uploadAddress/revistahorizontes_vol30_01_artigo03%5B19145%5D.pdf>


Clarita no Colégio

Dona Emília sob a ótica de Clarita

No Colégio

"D. Emília, a diretora, intimida um pouco as meninas, porque passa sempre muito séria pelos corredores, de mansinho, sem fazer barulho, muito circunspecta e grave, fiscalizando tudo. Porém, quando vai falar com alguém, é tão delicada, tão afável, tão boa, que as meninas perdem o medo. Nunca grita com ninguém, nunca se ouviu D. Emília levantar a voz. Entretanto todas as respeitam e temem." (p. 10)

circunspecta: que mantém atitude prudente e reservada, por vezes distante.

Mentir nunca!

"D. Emília esta fazendo um sermão. De vez em quando, na hora do estudo, quando todo o colégio está reunido no salão D. Emília entra toma o lugar da vigilante, que se afasta pressurosa, e começa a falar umas coisas tão bonitas, a dar uns conselhos tão lindos, que só vendo!
No começo Clarita não pescava quase nada, mas agora, que já são três meses no colégio, já começa a entender os sermões de D. Emília.
- Meninas! Todos temos, dentro de nós, uma coisa que se chama a consciência. Quando fazemos um ato mau, imediatamente sentimos a nossa consciência doer. É como se fosse uma voz que nos acusasse lá dentro, no fundo da nossa alma... Qualquer uma de vocês deve ter sentido, ouvido mais de uma vez, essa voz acusando suas faltas...
E D. Emília continuando:
Uma menina de caráter reto nunca mente, mesmo que, ao falar a verdade, saiba que vai tomar um castigo. Mais vale ter sua consciência em paz, acusando-se de sua falta, do que mentir e manchar a consciência." (p. 18)

pressurosa: apressada, impaciente, ansiosa.

Sempre a mesma!

"Oh! Como D. Emília é boa! É severa, não dá confiança às meninas, mas é justa, paciente, delicada, não grita nunca com ninguém. Que santa ela é! Que grande educadora!" (p. 55-56)

Espirros fora de hora

"D. Emília é muito cuidadosa, muito zelosa da saúde das meninas.Qualquer resfriadozinho, qualquer indisposição, com que cuidado ela trata. (...) D. Emília está sempre vigilante. E vigia tanto o bom comportamento das meninas como os espirros.
Para as faltas de comportamento; - o banquinho do escritório, o banco do refeitório na quarta posição, os    maus pontos e os zeros, inalteráveis... E para os espirros e a tosse: - o paletó e o xarope de alcatrão, que D. Fausta fabrica.
E assim D. Emília está sempre atenta ao bem-estar das meninas." ( p. 75-76)

Para variar sempre a mesma!

"Ai! que D. Emília não deixa a gente sossegada! Em todo lugar D. Emília está! Nossa! parece que até tem o dom da bilocação, porque a gente encontra com D. Emília num lugar, quando vai noutro ela já está lá!... E vigia tudo e fiscaliza tudo! Mas não grita com ninguém, nunca levanta a voz, só pega Clarita assim pelo braço, quando ela está muito assanhada, rindo, tagarelando, e diz muito séria:
     - Menina! você está muito excitada! Venha se aclamar um pouco! - e bota Clarita no escritório, naquele banquinho atrás da estante..." (p. 84) 

bilocação: capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo.

Uma saída de Semana Santa

" Clarita and geniosa, por qualquer coisinha se exaspera... Coitada! é sem querem sem refletir. Como é preciso ter-se paciência e brandura e, ao mesmo tempo, firmeza, com as crianças nessa idade! É o que a mamãe tem , e D. Emília também." (p. 102)

exaspera: irrita

Santa ou Demônio

"Como todos precisam de mão firme e experiente para os ajudar nesta luta contra si mesmos! É o que Clarita, felizmente, encontra em D. Emília. Com que paciência, com que bondade, e, ao mesmo tempo, com que enérgica e firme persuasão, a diretora amiga sabe conter os ímpetos de sua aluna revoltada! Quantas e quantas vezes, com o coração em turbilhão, entra Clarita no escritório, ouve calada, porém remoendo-se por dentro, o sermão de D. Emília, senta-se naquele banquinho, passa ali horas a fio... para depois sair calma, mansa, arrependida!..." (p. 115)


Conselhos de D. Emília

"Oh! Querida D. Emília! Que zelo pela sua aluna, mais que a aluna, filha! porque só uma mãe tem os cuidados e zelos que esta santa diretora tinha pelas suas alunas! 

Com um espírito altamente esclarecido, que conselhos, os mais sábios e prudentes, costumava dar às grandes! Parecia querer transfundir-lhes tudo o que de bom, de nobre tinha cheio de coração!" (p. 186)



A E.E. Profa Emília de Paiva Meira 



Retrato da Dona Emília colocado em local estratégico no  piso térreo da escola na qual ela é patrona e que nos dá a impressão que ela nos vela, quando passamos por ele para adentrarmos as salas de aula. 







Dona Emília é patrona de uma escola estadual de ensino fundamental e médio que fica localizada em Itaquera, periferia da cidade de São Paulo. 

E.E. Profa Emília de Paiva Meira é talvez considerada a mais tradicional do bairro. Teve sua origem no velho Ginásio Estadual de Itaquera e em 2004 completou 50 anos. O Emília já foi considerada a escola mais conceituada de Itaquera e até hoje muitos procuram esta escola em busca desse conceito, que graças à atuação da maioria do corpo docente ainda mantém-se classificada como uma boa escola.

Com a Reestruturação da Rede em 1996, a escola perdeu muito de seu referencial, pois se descaracterizou com a mudança do prédio, e muitos profissionais da escola, bem como os pais de alunos lembram saudosistas dos espaços outrora usufruídos por eles.

Pode-se dizer que as ações do Emília convergem para a obtenção de ótimos resultados de aprendizagem. Busca-se também resgatar a identidade perdida com a Reestruturação de 1996. 

Fotos antigas do Emília e de seus alunos(as).















Dr. Jacinto Reyes e seus amigos da Escola Emília de Paiva Meira 


Fotos atuais do Emília.